O metaverso (ainda) vai virar?

Responder a essa pergunta é fundamental para o futuro dos negócios, mas não é tarefa fácil

Filosoficamente, prever o futuro parece ser uma tarefa inalcançável. Não há, afinal de contas, ferramentas intelectuais suficientes para isso. Ainda assim, empresários preparados são aqueles que melhor lidam antecipadamente com os cenários futuros, projetando como o seu negócio será impactado na hipótese de que um contexto x ou um contexto y se materialize.

No caso do metaverso, trata-se de uma discussão que precisa, primeiro, de algumas combinações. É necessário demarcar que estamos falando efetivamente das mesmas coisas. Isso porque esse conceito até nos apresenta algumas novidades, mas traz principalmente a rearticulação de outros já conhecidos. Motivo pelo qual se poderia responder à pergunta do título da seguinte forma: o metaverso já virou… real!

Este conceito, Metaverso, deriva de palavras gregas, podendo ser entendido como um universo que transcende ao nosso. É, em essência, o que já acontece em alguns jogos, como o Second Life. No game, as pessoas criam os seus avatares e interagem em um espaço virtual. Ali, sociabilizam conforme uma plausibilidade própria, mas replicando em boa medida os acordos sociais feitos em nosso mundo físico, real.

Então, qual é a novidade? Por que o metaverso proposto por Mark Zuckerberg importa? Bom, trata-se de uma possibilidade de levar a ideia de um mundo virtual a um novo patamar, ainda mais relacionado com o mundo físico. A bem da verdade, essas duas noções, virtual e físico, poderão ser menos importantes caso esse universo se consolide. Isso porque os dois espaços deverão se misturar.

A imaginação de um mundo em que real e virtual se entrelaçam pode parecer maluquice aos olhos desatentos. Mas, na prática, isso já está em curso. Tomemos os negócios como farol, a fim de elucidar a ideia. Uma loja de calçados, por exemplo, já pode fechar negócios de maneira totalmente virtual, o que todo mundo sabe. Mas isso é só o começo de como as formas digitais de se relacionar podem impactar esse negócio.

Pense só em como seria visitar uma loja com a disposição clássica que conhecemos, podendo passear pelos corredores e olhar as vitrines. Lá, encontrar uma pessoa que será companhia para esse passeio. Mas, agora, tenha em mente que isso será feito com a diferença de que ninguém vai precisar sair de casa. Se cada um tiver seus próprios óculos de realidade virtual, isso será possível.

Essa loja pode vender, no mesmo lugar, tênis físicos e virtuais. Pensemos, primeiro, no exemplo dos físicos. A realidade aumentada já permite que uma pessoa possa “experimentar” o sapato e ver como ele fica no próprio pé, como combina com a roupa que está vestindo no momento, tudo isso a distância. Fechada a compra, o sapato pode ser enviado para a casa da pessoa, dando continuidade a uma nova experiência de compra.

Mas, talvez você tenha se perguntado, como assim sapato virtual? Aqui, é possível pensar em duas aplicações bastante diferentes. No caso da Gucci, o tênis foi projetado para ser vestido em fotos pelos compradores, ou seja, é um produto que só existe no mundo virtual, mas está combinado pela imagem ao corpo de uma pessoa real. Mas também podemos pensar nos sapatos virtuais projetados para os pés virtuais, ou seja, dos avatares, algo amplamente utilizado atualmente em vários jogos com universos próprios.

O exemplo da aplicação da loja de sapatos à lógica do mundo que está por vir, em que virtual e real se misturam, é apenas uma entre tantas. Mas ela é pedagógica e nos dá algumas pistas sobre a pergunta que nos motiva neste texto. As pessoas vão abraçar essa nova forma de sociabilidade, vão criar avatares e vão dispor de tempo de suas vidas em um universo paralelo? Assim como ele existe, de maneira embrionária, talvez não agora. 

No curto espaço de tempo, é possível que os impactos do metaverso sejam pequenos. Mas, a longo prazo, não se pode ignorar o potencial enorme que um mundo próprio, sem os limites do mundo físico, pode trazer. E mais: os jovens, que estabelecem boa parte das suas relações nos espaços virtuais não terão receio em fazer “coisas sérias” no mesmo formato em que se divertem.

A vida gameficada não será um tabu para as gerações que estão nascendo com tablets em mãos. O like no Facebook já diz muito aos adolescentes, sendo, às vezes, mais importante que um abraço ao vivo. As relações estão mediadas por telas até mesmo nas reuniões das grandes corporações – e não vejo motivo para que elas não possam ser realizadas, em breve, com o uso de avatares personalizados. Então, devolvo a pergunta: quando o metaverso virar, você estará preparado para aproveitar as oportunidades contidas nele?

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